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terça-feira, 15 de outubro de 2013

Muitas Milhas Longe de Tudo


Boa noite para todos, meus amigos e amigas, que tem me dado a grata satisfação de sua visita.
O post de hoje será um pouco diferente de todos os outros que eu postei desde que comecei com o blog, isso já há quase um ano. Sobretudo bem diferente desta nova fase do blog, onde eu desisti de usá-lo para fazer a divulgação do 305 Dias a Bordo (o livro que escrevi contando minha experiência a bordo e o qual eu tinha uma grande expectativa que teria uma boa recepção por parte daqueles que também são ou foram tripulantes, bem como dos que pretendem ser, daqueles que estejam em via de ser e até mesmo dos passageiros deste tipo de embarcação, mas que para minha tristeza e imensa frustração foi um total fracasso de vendas, ainda que seja um ótimo livro, muito bem escrito e completo), passando a utilizar o espaço para divulgar todos os pontos que envolvem este tipo tão peculiar de trabalho.
Sendo assim, nesta nova fase, inevitavelmente, eu comecei a abordar as questões tenebrosas, nebulosas, horríveis, cruéis, ruins mesmo do trabalho em navios de cruzeiro. Considero importante isso e continuarei o fazendo.
Não quero desestimular ninguém que tenha este tipo de trabalho como um grande sonho, ou um grande objetivo em sua vida, eu mesmo já fui tripulante (sobre a minha relação com esta questão aguarde novidades em breve) e ainda que eu já tenha recebido fortes críticas negativas quando coloco os posts que defendem o trabalho a bordo, ambos os lados são importantes e será essa a postura adotada aqui no blog daqui para frente.
Agora, sobre o post "diferente" de hoje. Porque diferente? Porque toda esta discussão gera stress, raiva, rancor, ódio, tristeza, enfim uma série de sentimentos negativos, dos quais eu tenho a absoluta convicção de que o mundo, a sociedade atual, como um todo, já está completamente saturada.
Este post de hoje é um intervalo, um parênteses, um pausa na batalha diária que me parece tem se transformado a vida da grande maioria das pessoas ao redor do mundo. É para dar um recado simples, singelo, mas também muito direto, características que tenho na minha personalidade e que procuro as manter a todo custo. É para lembrar que a vida é muita mais que isso, por favor, não esqueçamos disso pessoal. A vida é muito mais que toda essa coisa ruim que está a nossa volta. Que muitas vezes esbarra em nós, nos puxa e nos leva junto numa enorme queda livre. De padrões, de morais, de sentimentos...
Dedico este post de hoje, antes de tudo, a todos os bravos guerreiros tripulantes que estão neste exato momento em alto-mar, estejam eles em qualquer canto do mundo pelos oceanos que estiverem. Dedico também para todos aqueles que estejam longe de casa, sendo "casa" o lugar sagrado onde mora o seu coração e as pessoas especiais com quem se decidiu compartilhar está jornada, está viagem maior de todas que se chama vida.
Espero que gostem da música e do clip.
Uma ótima semana a todos, que Deus siga os abençoando (creia você nele ou não) e que a paz e os bons sentimentos nunca abandonem os seus corações, fui!!!!

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Audiência Pública no Senado Sobre o Trabalho Em Navios de Cruzeiro

Foto Geraldo Magela/Agência Senado

Saudações a todos. 
Tenho estado bem ocupado e consequentemente com menos tempo para me dedicar ao blog, mas com um pouco de paciência e muita perseverança, lá vamos nós.
Na ultima segunda-feira, 7 de outubro, as 10:00 horas, ocorreu no senado federal, em Brasília, nova audiência pública para tratar do tema da regulamentação do trabalho em navios de cruzeiro. Estiveram presentes, além do condutor do processo, o senador Paulo Paim (PT RS), o senhor Alexandre Ribeiro Frasson, pai da Bruna ( a menina detida na Espanha, vítima de um processo já publicado aqui no blog), a senhora Rosângela Bandeira, mãe de Camilla Peixoto Bandeira (assassinada a bordo do MSC Musica, também já postado aqui no blog), a senhora Ana Maria Pinto Canelas, assessora da Federação Nacional dos Trabalhadores em Transportes Aquaviários e Afins, o senhor Severino Almeida Filho, presidente do Sindicato Nacional dos Oficiais da Marinha Mercante, o senhor Bruno Renato Nascimento Teixeira, Ouvidor Nacional dos Direitos Humanos desta secretaria da presidência da república e o senhor Raul Capparelli Vital Brasil, Auditor Fiscal do Ministério do Trabalho e Emprego. Também esteve presente e contribuiu para a sessão o bailarino Arthur Souza, relatando casos de shows eróticos a bordo da companhia Star Cruises, onde foi contratado para participar de musicais estilo broadway,  mas que, segundo ele, acabou "caindo numa roubada". Para provar o que estava dizendo Souza mostrou aos membros da sessão (em audiência fechada) vídeos do ocorrido.
Infelizmente, por questões de agenda pessoal, eu não tive como acompanhar ao vivo a audiência e posteriormente no site do senado eu li o que estava a disposição sobre ela e assisti aos vídeos que foram colocados no referido site. Há dois vídeos. Um de 32 minutos onde o senhor Alexandre faz suas colocações com o auxílio de vídeos muito bem elaborados por ele. Neles ele expôs os casos de sua filha, Bruna Frasson (que cumpria contrato pela companhia italiana Costa), das tripulantes que faleceram a bordo, Fabiana Pasquarelli e Camilla Peixoto (ambas em navios da companhia italiana MSC) e ainda o caso da tripulante desaparecida desde de julho em 2012, quando navegava em águas italianas a bordo do navio Costa Mágica, Laís Santiago. O senhor Alexandre levanta a hipótese de Laís ter sido vítima do tráfico de pessoas, ainda que a companhia Costa tenha apresentado um vídeo (muito ruim em sua qualidade diga-se de passagem), alegando que a tripulante teria se suicidado arremessando-se ao mar. No entanto, assim como foi no caso da Camilla, há inúmeras questões mal explicadas e muitos pontos falhos nesta versão, isso sem falar em outras evidências que só aumentam o questionamento no caso dela. "No modo da campanha feita no Rio, no caso Amarildo, estamos lançando onde está Laís", contou o senhor Alexandre Frasson, comunicando que irá criar a campanha para tentar encontrar a tripulante. O outro vídeo tem uma duração de 14 minutos e trás o senhor Severino Almeida Filho fazendo suas colocações.
Durante a sessão o senador Paulo Paim (PT RS), adiantou que ao final do mesmo dia estaria registrando três projetos de lei com medidas no campo penal e trabalhista. Informou ainda que será enviado a Anvisa um pedido de esclarecimentos sobre os requisitos que esses navios, todos pertencentes a armadores estrangeiros, possam operar em águas brasileiras. A busca de meios para elaboração de uma cartilha que sirva de orientação para candidatos a tripulantes deste tipo de embarcação é outra medida que será adotada.
Outras questões foram abordadas e o mais interessante em tudo isso é ver que, ainda que timidamente, as coisas estão acontecendo e possivelmente mudanças positivas no horizonte começarão a aparecer. Os familiares de Camilla, sua mãe, senhora Rosângela e seu filho, o irmão de Camilla, senhor José godolphin e o senhor Alexandre Frasson, o pai de Bruna Frasson, tem sido incansáveis nesta luta desigual e são verdadeiros gigantes defendendo direitos de pessoas que nem sabem de sua batalha e dos benefícios que a vitória deles poderá ter para elas, falo claro, da imensidão de tripulantes e futuros tripulantes que ou já estão a bordo sofrendo na carne tudo o que foi relatado nesta audiência ou dos que pretendem, em breve, estarem vivendo suas próprias experiências. A minha, como já disse, está toda relatada no livro que escrevi e embora muito sofrida, não chegou a ter este viés tão negativo mencionado na audiência.
Já conclui o questionário e os primeiros interessados em respondê-lo já manifestaram seu interesse. No entanto, como ele ficou amplo (até mesmo porque procurei abordar todos os aspectos que envolvem o trabalho a bordo), acredito que ainda levará mais um pouco de tempo para que os primeiros estejam sendo publicados aqui no blog. Ainda irei colocar os casos da Fabiana e da Laís, além de outros que os familiares de Camilla colocaram lá no site deles. Aliás, eu recomendo e muito, é a melhor fonte de informação sobre o tema. Quem quiser conferir pode usar este link aqui, basta clicar sobre o nome dela - Camilla Peixoto Bandeira.
Até a próxima meus amigos e amigas, tenham todos uma ótima semana, repleta de realizações positivas, fiquem com Deus, fui!

sábado, 5 de outubro de 2013

Tá, Mas Dá Para Ficar Rico Trabalhando Em Navio?



Calorosa saudações rapaziada que dá sua passadinha por aqui, ainda que seja bem raro alguém dar uma interagida e deixar algum comentário, ao menos, de acordo com as informações do painel do blogger, a audiência até que está melhorando, não é nada que se diga nossa quantas visualizações, mas já foi pior.
Bom hoje eu abordarei outra vez a questão financeira, lembre-se de que mencionei que voltaria ao assunto com maior foco na questão salário, quando postei sobre o aspecto financeiro como um dos grandes prós do trabalho em navios de cruzeiro.
Naquele post eu mencionei que havia lido, visto matéria na televisão e acompanhado nas redes sociais que muita gente divulgava (e divulga ainda) que os salários a bordo não são aquilo que as companhias anunciam, havendo uma queixa generalizada que se divide em dois pontos - que os salários a bordo são baixos e de que as companhias inicialmente acenam com uma remuneração e uma vez a bordo pagam bem menos do que o valor pré acertado antes do embarque.
Então vamos lá, mais uma vez preciso fazer a ressalva e frisar bem o fato de que tudo o que eu escrevo aqui sobre este assunto tem como referência o meu primeiro contrato como tripulante, onde fiquei embarcado por 305 dias a bordo do MSC Orchestra, como assistant waiter, na temporada 2009-2010. Posso parecer meio chato lembrando isso sempre, mas faço questão disso, porque para mim é importante que vocês saibam que busco a sensatez, o equilíbrio, a sinceridade e a honestidade em relação as informações que passo. Não vejo maneira mais verídica do que essa de usar a minha própria experiência a bordo por quase um ano viajando sem voltar um dia se quer para casa nesse período, com a intenção de ajudar aqueles que buscam informações sobre este tipo de trabalho. É bem conveniente registrar também de como as informações chegam desconexas e na grande maioria das vezes de forma unilateral, de forma parcial e isto também acaba se tornando um agravante para que aqueles que desejem mais informação sobre este ramo de trabalho possam obtê-la de uma maneira mais coerente e justa. Acabei de perceber que tenho material para mais um post muito bom onde abordarei esta questão das informações e contra-informações sobre o tema.
Bem, desculpe-me aí, acabei fugindo um pouco da proposta inicial. Então retomando. Alguns amigos com quem tive o prazer de conviver a bordo com uma experiência muito maior que a minha (já no seu segundo, terceiro, quarto contrato e assim por diante), proporcionaram-me uma visão mais rica, mais ampla sobre esta questão. Já diziam eles que quando chegavam em casa após um contrato algum metido a amigo, um conhecido, na verdade, invejoso e mais maldoso, sempre vinha com a brincadeirinha do "e aí já ficou rico agora?", claro que a resposta era não. Mas a grande verdade é que uma grande parte dos tripulantes, mesmo os brasileiros (com os estrangeiros pelo levantamento que fiz através de conversas com vários deles a coisa é ainda mais tangível, mas aí entram em cena outros fatores como a economia do país daquele tripulante, a conversão da moeda, o foco na suas finanças pessoais, etc), após o segundo contrato costumavam ter uma significativa melhora no seu padrão e consequentemente na sua qualidade de vida. Alguém já brincou usando a afirmação de que o dinheiro não compra a felicidade, mas que ele manda alguém comprar. Ainda que eu não concorde com este dito, não posso negar que ter uma melhor renda permite muitas coisas que não se tem com uma menor e que isso direta ou indiretamente contribui para que nos sentimos melhor, mais alegres, mais felizes.
Sendo assim galera, de forma resumida (é mesmo impossível abordar e esmiuçar este tema inteiro em apenas um post e tendo como referência apenas a minha experiência), posso dizer o seguinte. Os salários maiores a bordo (falando obviamente na plebe rude, camada social a qual pertenço e pertencia a bordo), são também daqueles que tem as funções que mais ralam a bordo e estão concentrados nas áreas de restaurante e hotelaria. Os tops são os garçons e os camareiros. Há funções intermediárias e iniciais nestas duas áreas e aqueles que a exercem tem um salário muito menor. Neste primeiro contrato meu salário como assistente de garçom, lá na MSC, era de U$$ 1.200,00, porém uma informação mega preciosa que você precisa saber é que esta companhia costuma reter boa parte do seu salário nos três primeiros meses. A alegação para isso é que se caso você resolver desistir e quebrar seu contrato, este fundo de reserva será usado para custear sua passagem de volta para casa. Caso isso não aconteça e você cumpra o seu contrato até o final (ou até mesmo o exceda em tempo, como foi o meu caso), o custo integral das passagens até o aeroporto mais próximo de sua cidade (que você mesmo informará quando chegar a hora) ficará por conta da companhia e aquele fundo lhe é pago nos meses subsequentes. Sendo assim, na prática, naquela ocasião eu nunca recebi no mês os U$$ 1.200,00. No inicio do contrato recebi menos e depois do terceiro mês costumava receber um pouco mais. Outra variante que entra na questão salário é a taxa de ocupação do navio. Uma vez que as tips (que fazem parte do seu salário, no caso do pessoal do restaurante) estão inclusas no preço do pacote que o passageiro compra. Outro porém que deve ser levado em conta são as tips que você recebe diretamente dos passageiros (normalmente na ultima noite de cada cruzeiro). Este valor costuma fazer uma diferença positiva, mas sofre de uma inconstância muito grande de cruzeiro para cruzeiro  devido a diversos fatores que não vou abordar aqui agora, até mesmo porque este post já está muito longo e a galera não curti isso.
Bem gente, termino este post concluindo de que acabarei retornando ao tema e o farei em outra ocasião, não necessariamente na sequência imediata, uma vez que existem outros assuntos a serem tratados e outros que não podem ser esquecidos.
Muito obrigado a todos pela atenção e pela visita, um ótimo findi e fiquem com Deus, fui!!

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Navegando Pelo Planeta Na Imensidão do 7 Mares


Muito bem gente, saudações a todos, sejam bem vindos para mais um post desse marujo de meia tigela que vos escreve.
Hoje vamos tratar de mais um pró do trabalho em navios de cruzeiro e como sempre vou falar usando como principal referência minha própria experiência, quando estive a bordo por 305 dias e da qual eu até escrevi um livro e tal (mas isso ninguém quer saber não é mesmo, afinal quem gosta de ler livros nesse país?)
Então vamos lá, direto ao que interessa. Durante este tempo em que entre uma dificuldade e outra eu ia vivendo e sobrevivendo a bordo, tocando a vida a custa de muito sangue, suor e lágrimas (tá certo, é verdade que eu nunca cheguei e chorar a bordo, mas olha que estive bem perto), uma das minhas aliadas para manter a mente sã e arejada era sempre a descida quando estávamos atracados em algum porto, de alguma cidade, de algum país por onde estivéssemos passando. E meus amigos, não foram poucos não. Para você ter uma ideia mais clara do que estou falando, durante os 305 dias a bordo, eu passei por mais de 40 cidades, em mais de 15 países em pelo menos 3 continentes.
Agora peço a gentileza que acompanhe o meu raciocínio. Veja bem, um sujeito de baixa renda que jamais teria condições de sair do seu país para viajar, conhecer Lisboa, Gênova, Barcelona, Buenos Aires, Montevidéu, Oslo, Estocolmo, ter tido a chance de, ao menos, ter uma ideia do que são países como Alemanha, Inglaterra, Itália, Portugal, Espanha, Dinamarca, Suécia, Noruega, Marrocos, Argentina, Uruguai entre outros, convenhamos, é algo valioso e que não é possível mensurar apenas com o argumento simplista de calcular o valor aproximado que seria necessário para rodar o mundo por estes países e por estas cidades (ainda assim o montante financeiro que seria preciso ficaria muito aquém das minhas condições por muitas gerações). Pois bem o trabalho a bordo de um navio de cruzeiros me permitiu isso, me deu esta oportunidade. Claro que tudo é muito rápido, a "toque de caixa", mas intensa e rápida é a vida a bordo, e se você parar para pensar um pouco, verá que toda esta intensidade e toda esta rapidez te obriga a ser mais focado e mais eficiente e estas características se entrarem na "massa do sangue" podem ser de grande valia para tocar a vida fora do navio, após o término do contrato.
Por outro lado, deixo aqui uma dica valiosa para os aspirantes a tripulante, aqueles que estão buscando seu primeiro contrato. NUNCA, eu disse NUNCA, vá dizer numa entrevista no processo seletivo que você quer trabalhar a bordo de um navio de cruzeiros para viajar e conhecer o mundo. Lembre-se você NÃO está indo fazer turismo e sim para trabalhar e muito, mas muito pesado mesmo, no mínimo por 10 horas, sete dias por semanas, todos os dias do mês, na verdade todos os dias, cada diazinho do seu contrato, seja ele de seis ou de nove  meses, então não tire isso da sua mente. Haverá sim, com toda a certeza, os momentos em que você terá a oportunidade de descer um pouco (ainda que as vezes seu tempo seja de apenas meia-hora) e quando esta oportunidade chegar pode ter certeza, os melhores momentos de seu contrato estarão prestes a acontecer. Será aquele momento mágico e alegre dos sorrisos nas fotos que você mostrará todo orgulhoso quando voltar (ou que compartilhará pelo facebook, cheio de saudades dos familiares, dos amigos e de todos aqueles que você deixou para trás ao decidir embarcar e conferir como é essa vida), será também o momento em que você, muito provavelmente virá as lágrimas durante uma ligação de telefone, milhas e milhas distantes de casa, ouvindo do outro lado do aparelho a voz daquele que ama (sejam seus país, seus irmãos, sua esposa(o), seu filho(a)).
Mesmo assim serão estes, sem sombras de dúvidas, os momentos que irão fazer valer a pena e acrescentar valores imensuráveis a sua experiência. Fica a dica - desça sempre e visite o maior número de lugares que você conseguir.
Uma última observação antes de me despedir. Fiquei impressionado com a repercussão e audiência que os posts sobre o lado negro que conta os casos da Bruna e da Camilla tiveram. Tem um lado muito bom isso, mas também me fez refletir se o ser humano não é mesmo mais interessado em coisas ruins do que nas coisas boas? Vai ver vem daí a explicação para o sucesso dos veículos de comunicação que tem como enfase tragédias, violência e tudo mais de ruim que acontece por aí. Também, quem sabe, esteja aí a explicação para o fracasso de vendas do meu livro, vai saber?
Mas era isso por hoje, fiquem todos com Deus e até o próximo post.


terça-feira, 1 de outubro de 2013

A Hora É Agora



Oi para todo mundo, nunca vou cansar de agradecer vossa louvável visita, de coração gente.
Hoje eu vou dar uma pausa nos assuntos mais pesados, tristes e tensos que venho abordando recentemente aqui no blog e vou fazer uma avaliação do momento para quem tem a intenção de embarcar ou retornar a sofrida vida de crew.
Um dos motivos, eu diria até que seria o principal deles, daqueles que buscam o trabalho a bordo dos cruzeiros marítimos é a possibilidade de um bom salário, a chance de obter, entre outras coisas, um bom ganho financeiro.
Eu poderia me aprofundar a respeito da questão salário, uma vez que já li, já vi reportagens na televisão e acompanhei algumas discussões nas redes sociais de que as companhias ofereceriam um determinado valor e uma vez a bordo a realidade seria outra bem diferente, mas para resumir esta questão farei apenas duas colocações - primeiro ela está abordada de forma muito clara e transparente no livro que escrevi relatando os 305 dias que estive a bordo (o dia do primeiro pagamento foi um dos momentos mais tensos e marcantes desta experiência e está bem descrito lá) e segundo, voltarei ao tema em outra oportunidade analisando minunciosamente este tema - dito isso, voltemos a questão deste post.
A observação mais importante que deve ser feita atualmente é no mercado financeiro e eu aconselho aos aspirantes a crew ou aqueles afastados do mar já há algum tempo, mas que estão balançando, refletindo se deveriam voltar ou não a bordo, a acompanharem mais de perto as oscilações da cotação da moeda americana, já que todos sabem, é em dólar que na grande maioria das companhias de cruzeiro são feitos os pagamentos dos salários.
A boa notícia é a seguinte, os economistas, os analistas do mercado financeiro, as instituições especializadas, enfim, todo o pessoal do meio tem uma opinião convergente, de senso comum, de que o dólar manterá-se acima dos dois reais, com uma forte tendência de flutuação entre R$ 2,20 até R$ 2,30, podendo haver ainda uma valorização mais forte conforme o comportamento da economia nos Estados Unidos, o que até já teria ocorrido se o governo brasileiro não tivesse agido para conter a alta. Mas, a grande notícia é mesmo essa - dólar em alta = a salário ainda mais atraente para os tripulantes que dão sangue e suor a bordo, trabalhando incansavelmente todos os dias em suas longas jornadas.
Vou ficando por aqui, porque o texto já está muito alongado, mas prometo voltar ao tema posteriormente para comentar sobre os outros aspectos que são os prós embarque. O principal deles está aqui, a alta do dólar é sim uma grande aliada para quem estiver a fim de, como já disse, retornar a bordo após um período longo fora dos navios ou para os marinheiros de primeira viagem.
Fui gente, fiquem todos com Deus e até a próxima!

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

O Lado Negro do Trabalho Em Navios de Cruzeiro - Parte 2


Muito bem amigo(a)s dando sequência a este assunto de suma importância que é manchete deste post, hoje vou falar sobre os casos que são na minha opinião, os mais graves de todos, aqueles em que há óbito de tripulante. Quando lá no inicio da jornada o futuro tripulante começa a sua caminhada, já enfrentando uma série de dificuldades com toda a burocracia e os custos referentes ao processo, uma coisa que nem de longe ele considera é que correrá algum tipo de risco a sua integridade física, ainda mais que possam leva-lo a óbito. Porém, infelizmente, existe sim este risco e ele é muito mais possível do que se imagina.
Um levantamento feito pelos familiares de Camilla Peixoto Bandeira (vítima de assassinato, mas que inicialmente foi considerado suicídio), contabiliza um total de 210 casos de óbitos a bordo de navios de cruzeiro desde 2002 até fevereiro de 2013, faço a ressalva (necessária) que não há no site se estes mesmos óbitos trata-se apenas de tripulantes ou se incluem passageiros. O site a que me refiro foi criado pelos familiares de Camilla  e eles o mantém no ar como forma de preservar sua memória, bem como o de lutar por justiça e não deixar cair no esquecimento o caso dela.
De forma resumida ela foi encontrada morta em sua cabine, na manhã de domingo, 10 de janeiro de 2010. Inicialmente tentou-se classificar o caso como suicídio, mas esta versão não convenceu mesmo os que conheciam Camilla mais a distância. Considerada por todos que a conheciam como uma pessoa de bom coração, guerreira, de personalidade forte, do tipo que nunca se entregava e muito menos desistia da luta por mais árdua que ela pudesse ser, a versão de suicídio chegava mesmo a ser uma ofensa a sua memória.
Não tardou para que contradições e diversas falhas nesta versão inicial de suicídio viesse a tona e aos familiares da Camilla além da eterna saudade, do dor irreparável da perda de forma abrupta, lutar por justiça e para preservar sua memória.
Camilla foi encontrada morta em sua cabine por aquele que era então seu noivo a época, Bruno Souza Bicalho. Foi ele também a principal testemunha do caso. Devido as contradições em que caía com recorrência em cada depoimento que dava ao delegado de Policia Federal em Santos, Sandro Pataro, e das evidências técnicas levantadas pela perícia do caso, passou de testemunha a principal suspeito. Quando o delegado  recebeu os laudos definitivos que afirmaram que Camilla não teria se suicidado e sim sido assassinada, ele enviou uma carta precatória a PF de Divinópolis (MG), cidade onde moraria o rapaz, para que fosse oficialmente  indiciado como acusado. O próximo passo será a conclusão e o encaminhamento do processo ao Ministério Público Federal.
E eu continuarei acompanhando o caso torcendo por justiça.
Há outros casos e os colocarei aos poucos aqui no blog, para que se torne de conhecimento daqueles que desejam torna-se tripulante e para que saibam bem aonde estão entrando. No entanto, volto a frisar aqui, minha ideia não é desestimular ninguém que queira ser tripulante, muito menos, de considerar como verdade absoluta que casos como esse são a maioria e que acontecem o tempo todo. Como já disse em post anterior é necessário que se tenha sensatez e muito cuidado antes de sair por aí alegando que trabalhar em navios de cruzeiros é uma grande roubada e que não vale a pena de forma alguma a experiência. Entendo perfeitamente todos aqueles (e não são poucos) que defendem essa posição, mas na minha humilde opinião cada caso é um caso. Estes que tiveram um desfecho irrefutavelmente trágico eu além de colocar aqui e de fazer a divulgação (a maneira que acredito estar contribuindo com a causa), estou a disposição para ajudar da maneira que puder para que a justiça seja feita. Tanto no caso da Camilla, quanto no caso da Bruna, seus familiares tem travado uma luta injusta por sua natureza, são uns Davi enfrentando, cada qual, o seu gigante Golias, mas tenho como crença que ao final o bem sempre vence e presto minha solidariedade a eles.
Voltarei ao tema com outros casos amigos e amigas, lembrando ainda que também uma série de entrevistas com tripulantes e ex-tripulantes estarei colocando aqui no blog para dar voz aqueles que, assim como eu mesmo, sentiram ou ainda sentem na pele tudo o que acontece a bordo e principalmente para que seja possível além de ampliar o debate ter diversas visões e ampliar nossos horizontes sobre o tema.
Muito obrigado a todos pela sua visita, quem quiser interagir por favor, fique a vontade, estou aqui para o que der e vier e seria ótimo não ter esta sensação de estar falando sozinho. Uma ótima semana, fiquem com Deus e até a próxima!

sábado, 28 de setembro de 2013

Caso Bruna



Saudações visitantes virtuais que me concedem o prazer de sua visita.
Pois bem, meus amigos e minhas amigas, nesta última sexta-feira saiu a sentença da ex-tripulante Bruna Frasson (caso que tenho acompanhando já há um certo tempo e que apresentei aqui no blog para aqueles que ainda não sabiam do que se tratava) e para minha indignação ela infelizmente foi considerada culpada e sentenciada a cumprir uma pena de seis anos e um dia na prisão. Faço minhas as palavras do senhor Alexandre Frasson, o pai de Bruna, um dos que mais vem sofrendo com tudo isso e que tem feito de tudo para conseguir que se faça justiça e libertar a Bruna, em entrevista concedida ao jornal Zero Hora deste domingo (mas que já está nas bancas), diz ele:
- "O julgamento foi uma farsa. Nós tínhamos alguma esperança, mas, infelizmente, a decisão não me surpreendeu. A justiça espanhola foi xenófoba e também teve preconceito de gênero no caso."
O advogado dela, senhor Raúl Verdejo, afirma que com a decisão judicial deferida, abre-se uma nova etapa no processo. Existe a possibilidade de solicitar a troca da pena por uma expulsão, quando ela já estiver cumprindo a pena no regime semiaberto. Há ainda, uma outra opção que seria a de solicitar esta troca antes do regime semiaberto e neste caso Bruna cumpriria cerca de quatro anos da sua pena em um centro penitenciário brasileiro. Como é de conhecimento de todos que nosso sistema penitenciário é infinitamente inferior ao espanhol o pai de Bruna estuda qual seria a melhor opção. De qualquer modo existe esta possibilidade e o senhor Alexandre Frasson pondera que talvez se ela estivesse aqui no Brasil desde o inicio do processo possivelmente responderia em liberdade.
-"Minha filha não tem antecedentes, é uma vítima do que aconteceu." Ressalta o senhor Alexandre.
No dia sete de outubro, em Brasília, será realizada uma audiência pública que tratará da exploração de trabalhadores de cruzeiros e também da investigação de crimes que ocorrem a bordo dos transatlânticos.
Seguirei acompanhando o caso Bruna e abordarei nos posts seguintes os temas da audiência pública que ocorrerá em Brasília. Outra abordagem que darei aqui no blog será dando a palavra a tripulantes e ex-tripulantes (mas que cumpriram, ao menos, um contrato inteiro), através de uma série de entrevistas que na sequência e de forma intercalada estarei postando aqui. O objetivo é bem simples, ser o mais transparente possível sobre este tipo de trabalho tão peculiar, com o intuito de contribuir com aqueles que já estão embarcados, bem como com aqueles que estão ainda buscando o seu primeiro embarque.
Aguarde também uma novidade surpreendente a respeito desta questão e que diz respeito de forma muito direta a este que vos escreve.
Valeu galera, fui, fiquem todos com Deus, tenham um ótimo fim de semana e até a próxima.