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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

A Primeira da Série...


Saudações nobres visitantes!
Hoje, finalmente estarei colocando a primeira entrevista da série que pretendo pôr aqui. Para mim isto é de supra importância. Como já disse é preciso dar voz aqueles que estão ou estiveram lá dentro. São eles os personagens principais, os verdadeiros guerreiros que travam as batalhas mais duras a bordo. São eles que enfrentam de peito aberto todas as adversidades do ramo. Ninguém melhor do que eles para saber e poder falar do que é o trabalho a bordo de navios de cruzeiros.
Uma colocação importante que preciso fazer é o fato de ter dado a opção aqueles que se prontificaram a responder as perguntas que elaborei de não se identificarem. Alguns ainda estão a bordo e receiam que alguma coisa que diga possa vir a prejudicá-los, outros simplesmente manifestam interesse nesta opção e seu desejo devem ser respeitado.
Uma ultima observação se faz necessária. As respostas serão colocadas aqui sem censura nenhuma e são de inteira responsabilidade dos que as responderam. Quanto ao teor das respostas não compete a mim nenhum tipo de julgamento e tão pouco estarei manifestando a minha opinião, como também, obviamente, não quer dizer que eu concorde ou não com o que foi respondido. A proposta é abrir o espaço e a avaliação do que for colocado compete unicamente a cada um que fizer a leitura. Bem, mas chega de explicações e vamos lá.

Luciano,
Segue abaixo questionario completo:

Antes de responder esse questionario, farei um breve resumo.
Fiz na MSC 2 sofridos embarques, na verdade nao considero contrato pois nao o finalizei.
O primeiro foi ruim o segundo foi pessimo !!!
Mas no primeiro conheci meu futuro amor e marido,cozinheiro Italiano, que trabalhava ao meu lado no buffet,fizemos o segundo embarque juntos ja casados.
Somos casados desde 2010 e hoje moramos de novo no Brasil.


1- Qual o seu nome, sua idade e seu estado civil? Você tem filhos? Quantos?
 Nao gostaria de me identificar.
idade : 41 anos 
casada
Ainda nao temos filhos

2- Com quem você mora e em que cidade/estado?
Hoje moro com minha mae novamente no Rio de Janeiro.
Eu e meu marido, moravamos na Italia e com a crise viemos pro Brasil.

3- Qual a sua profissão? Você trabalhava com o que antes de embarcar?
  Sou formada em Admistracao de Empresas, e antes do navio trabalhava na parte administrativa.

4- Você lembra quando foi a primeira vez que pensou sobre a ideia de ser tripulante?
 A primeira vez que pensei em ser tripulante (2008) foi qdo estava desempregada e nada mudava na minha vida. E tambem eu havia feito curso de comissaria de bordo na adolescencia mas como tive a perda de meu pai na epoca do curso, eu nao passei na prova. Ai 
pensei :" como nao foi pelo ar foi, tem que ser pelo mar".
  Ate lembro um fato ocorrido marcante nesse periodo, uma cartomante veio aqui e jogou para mim, ela disse q em breve eu ia viajar muito e eu falei : Como assim se nao tenho 1 centavo???...rs

5- E quando foi que você decidiu, de fato, se tornar tripulante e por quê? Qual foi a reação dos seus familiares e amigos quando souberam disso?
 Decidi ir quando minha mae me emprestou dinheiro alto cerca de R$ 2mil, pra pagar as taxas ,exames, curso,passaporte, gastos com coisas que precisavam na epoca, etc ,Meus familiares me apoiaram e meu amigos tambem.

6- Antes de você embarcar, procurou informar-se sobre o serviço e suas peculiaridades (cias, agências de recrutamento, custos, dificuldades, etc)?
 Sim, procurei infromacoes com ajuda de uma amiga que ja tinha alguns embarques ,sobre agencias e curso do STCW registrado pelo Ministerio da Marinha.

7-Você teve algum conhecimento ou recebeu alguma informação sobre casos que envolviam a morte de tripulantes a bordo, de assédio sexual, de assédio moral, problemas de saúde enfrentados por tripulantes ou qualquer outro grave acontecimento, seja de qual natureza fosse, envolvendo tripulantes? Se sim, quem informou e qual foi a sua reação?
 Naquela época (2008) nao tinha acidentes ou nao era divulgado os acidentes com tripulantes.

8- Como foi o processo seletivo que você participou? Que agência conduziu o processo? O que você achou dessa etapa e qual sua avaliação sobre a agência condutora de todo o processo?
 Meu processo seletivo foi traquilo, fiz o curso STCW e mandei curriculum para agencia . Embarquei pela mesma agencia nos 2 contratos pela msc.A agencia passa quase todas as informacoes, menos dizer que vc tera que limpar o buffet quando acaba seu servico.

9- Quais foram as suas despesas nesta fase?
 Tive diversos gastos como passaporte, STCW, taxa da agencia, exames, despesas extras pessoais que envolvem um embarque.

10- Houve alguma dificuldade enfrentada por você durante esta etapa? Qual? Como você a superou?
 Nao tive dificuldade pois minha mae me emprestou o dinheiro.

11- Quantos contratos você fez? Por quais companhias, em quais posições e qual foi o tempo de cada contrato? Algum deles você não cumpriu até o final? Por quê?
 Nao considero que tenha feito 2 contratos porem tive 2 embarques de 5 meses , no que na verdade  teriam que ser 9 meses.
MSC MUSICA 24 -DEZ 2009 A MAIO 2009
MSC OPERA 23-NOV 2010 A MAIO 2011

12- No seu primeiro contrato, qual era a sua maior expectativa? Ela foi correspondida? Por quê?
No meu primeiro contrato eu tinha algumas coisas em mente de realizar com o dinheiro e foi conforme eu planejava.

13- Qual foi a maior dificuldade enfrentada por você a bordo e como você fez para supera-la?
 A minha maior dificuldade a bordo foi por problema de resistencia fisica mesmo, entrei pesando  60 kilos la dentro quase morri com a anemia e cheguei a pesar 48 kilos, que foi quando eu pedi pra  desembarcar pois disse que meu contrato havia terminado e eles acreditaram sem verificar minha data, pois a minha agencia havia dito que eu poderia fazer 6 meses.

14- Que diferença você observou entre as formas de relacionamento das outras nacionalidades de tripulantes a bordo, entre eles e entre eles e os brasileiros? E entre os brasileiros uns com os outros e com as outras nacionalidades?
 Existe sim, uma rivalidade com os brasileiros a bordo , acredito que pelo fato do Brasileiro ser " vivido".
Eu mesma sofri alguns preconceitos por namorar Italiano no navio pois eles sao ARROGANTES e abusados com os brasileiros.
As meninas me olhavam meio que de lado, pois achavam que eu tinha "previlegios" por ser casada com Italiano.

15- Qual a sua avaliação sobre as acomodações oferecidas para os tripulantes?
 As acomodacoes sao boas, vc so as ve nos seus momentos de dormir...rs

16- O que você achou da comida que era oferecida para os tripulantes e da estrutura do restaurante (crew mess) para os tripulantes?
 A comida era para ser melhor se eles colocassem uns cozinheiros melhores. O que desce do Buffet para o crew mess, geralmente vem modificado pois muda o sabor depois de algumas horas. 

17- Em relação a estrutura em geral, oferecida aos tripulantes, qual sua opinião?
 A estrutura na MSC para os funcionarios nao é uma das melhores. Outras Cias tem melhores condiçoes.

18- Como costumava ser a sua rotina a bordo, incluindo as horas de folga?
 Nas horas de break ou eu ia pra rua ou dormia.

19- Qual foi a pior coisa/situação a bordo pela qual você passou e ou encontrou?
 Fora as implicancias do maitre no 2 embarque , a anemia que tive nos 2 embarques me derrubaram, mas a minha sorte que eu sai a salva, pois nao chegou minha hora, mas quase chega.

20- O que você considera de mais negativo inerente a sua atividade/função a bordo?
 O peso que carregava no buffet, cerca de 10 kilos cada pirofila com arroz.

21- Qual era a sua diversão a bordo?
 A minha diversao era estar com meu namorado no primeiro embarque e no segundo meu marido.rs O MESMO.

22- Como era o relacionamento dos chefes do seu setor e os demais no geral com os tripulantes?
 Relacionamento no primeiro embarque foi maravilhoso, tivemos um maitre maravilhoso e um chefe do buffet muito bonzinho tambem .
No segundo embarque foi ao contrario, implicante , tudo de ruim...

23- Como era o relacionamento dos passageiros com os tripulantes?
 Foi tranquilo, nao tive nenhum problema com os passageiros.

24- Em geral, você considera que os passageiros saiam satisfeitos ao final de cada cruzeiro? Por quê?
 Alguns sim, outros nao.

25- Qual era a maior queixa dos passageiros? Dos chefes? Dos outros tripulantes que você costumava ouvir a bordo? E qual era a sua?
 A maior queixa era que os passageiros queriam um buffet aberto 24 hs, nao queriam pagar pro Room service.

26- Havia algum gasto que você tinha a bordo? Quais?
 Tive gastos a bordo com agua que era "obrigada" a comprar no crew mess, por causa do peso da caixa de agua e os DESCONTOS QUE EXISTEM SIM A BORDO PRA VC ESTAR NA CABINE E COMER.

27- Financeiramente, a experiência correspondeu as suas expectativas? Por quê?
 Na Epoca (2008) sim, hoje em dia nao sei.

28- Emocionalmente, a experiência correspondeu as suas expectativas? Por quê?
 Sim,emocionalmente a experiencia foi Otima, pois a MSC me presentiou o amor de minha vida, hoje estamos casados a 3 anos.

29- Qual foi o ponto mais positivo da sua experiência como tripulante? E qual foi o mais negativo?
Ponto positivo , me superei com a fadiga fisica e psicologica.Ponto negativo,a anemia que tive que quase entro pra lista dos que nao voltaram mais.

30- Qual foi a sua avaliação final ao fim do contrato, valeu ou não a pena? Por quê?
 Valeu por eu ter conhecido meu marido a bordo e viajado por lugares que nunca imaginaria ir.

31- O que você diria para aquele que está tentando o seu primeiro contrato ou que já está apenas aguardando o embarque já com a data definida?
 Eu diria para ele ir pois so indo que saberemos como foi ou sera!!!

32- Há algo mais que você gostaria de colocar?
Gostaria de deixar claro que minha opiniao e pessoal e que nao sei como estao as coisas hoje mas na epoca era como eu citei , por exemplo no item 26.

33- O que você acha da ideia de alguém escrever um livro contando a experiência pessoal de ser um tripulante e qual sua opinião sobre este questionário que acabou de preencher?
A ideia do livro eu tive em 2008 e ate falava, poxa vou citar seu nome no meu livro para algumas amigas, por fatos e acontecimentos engracados ocorridos, mas nao escrevi o livro que gostaria sobre meus sofridos embarques.
Adorei o questionario, é bem completo na minha opiniao.


Prefiro nao ser identificada.
Obrigada
bjs
Sucesso!!!!





quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Se Você Ver Esse Homem, Avise a Polícia


Saudações fraternas aos amigos e amigas virtuais que me honram com vossa visita. A coisa anda bastante corrida por aqui e por isso não tenho conseguido manter meus blogs atualizados como gostaria, mas, vamos lá.
A  postagem de hoje retoma o caso do assassinato da tripulante Camilla Peixoto Bandeira (para saber mais a respeito do caso, basta dar uma olhada em postagem anterior). Finalmente, depois de 3 anos do seu assassinato, a justiça mandou decretar a prisão preventiva do acusado pelo crime, o barman Bruno Souza Bicalho (é a foto dele que ilustra este post). No entanto, como seria de se esperar e que era fato óbvio que aconteceria, ele está foragido. Informações preliminares dão conta de que ele estaria morando no Rio de Janeiro, na capital, mas não há um endereço onde possa ser encontrado, nem nesta e nem outra cidade. Por isso, o post de hoje tem também a pretensão de ajudar, ainda que de maneira limitada, divulgando a foto dele e solicitando a quem o veja que informe a polícia. Se houver como informar diretamente a Polícia Federal, melhor ainda, porque foi ela quem conduziu as investigações na figura do delegado senhor Sandro Pataro.
Este homem é um assassino frio e dissimulado. A família de Camilla e ela mesma merecem justiça. É o mínimo dos mínimos que lhes restou  e mesmo isso poderá lhe ser negado, algo bem comum em um país tão injusto e cheio de distorções, de erros, como o nosso. Porém, cabeça erguida e fé sempre. Todo cidadão brasileiro de bem, aquele operário, trabalhador comum, é um incansável guerreiro por sua natureza neste país. Somente unidos poderemos fazer a diferença. Mais uma vez, por favor, se você ver este homem informe de imediato a polícia e vamos torcer para que ele seja colocado atrás das grades e que lá permaneça até o dia do seu julgamento. Nossa torcida também para que a justiça seja feita quando este dia chegar e mais ainda que ele cumpra sua pena. Ainda assim, podemos ter certeza, a dor que ele causou é irreparável. A ausência eterna da companhia daquela que eles tanto amam permanecerá. Que está família encontre forças para prosseguir, é meu desejo mais sincero. Deus os abençoe, que a paz esteja convosco!
Era isso pessoal, os primeiros questionários já foram entregues e em breve começarei a colocar aqui para ampliar este debate e dar voz aqueles que estão ou estiveram no front, lá dentro, a bordo trabalhando. Sem dúvida nenhuma, este pessoal sabe melhor do que ninguém as agruras, as dificuldades, as alegrias e tudo mais que rola a bordo. Vale a pena conferir.
Fiquem todos com Deus, até a próxima, fui! 

sábado, 19 de outubro de 2013

Virando Seu Mundo de Cabeça Para Baixo


Cordiais saudações aos amigos e amigas que me concedem a honra de vossa presença.
Estou aqui mais uma vez para colocar um pouco mais sobre esse universo, esse mundo absolutamente peculiar, tão diferente de tudo, que é o mundo dos tripulantes de navios de cruzeiro.
Polêmicas e dificuldades a parte, a gente segue em frente, afinal este é o movimento natural de todos aqueles que querem evoluir, que querem melhorar, que querem vencer de alguma forma na vida.
Uma pessoa (que eu saiba não é tripulante) compartilhou esta gif  no Google+, já faz um tempinho e infelizmente não lembro seu nome para lhe dar os devidos créditos, lembro apenas que foi uma menina. De qualquer modo, achei muito show de bola, perfeita para fazer um post sobre aquele turbilhão de sentimentos que aflora nos primeiros dias do primeiro contrato daquele marinheiro de primeira viagem, de certo modo, ainda bem ingênuo, inocente. Cheio de expectativas, tomado das melhores intenções e com a certeza de que está vivendo um grande momento em sua vida.
A fora um ou outro caso (afinal ninguém é igual ninguém), parece-me que esta é a maneira como aqueles que passam por este tipo de situação pela primeira vez a encaram. E é exatamente neste sentido que a gif que ilustra este texto tem tudo a ver com o tema. As primeiras horas a bordo, os primeiros dias, enfim os primeiros momentos serão mesmo marcantes pelo resto da vida, seja para o bem, seja para o mal, daqueles que experimentarem esta experiência. A visão do navio impressiona em sua primeira aparição. Gigantesco, monumental, imponente. Como se achar, uma vez lá dentro? Como encontrar a sua cabine, o seu local de trabalho e todos as outras localidades que você precisa acessar, sempre com urgência (é tudo sempre tão urgente a bordo)? Será que meu inglês será suficiente para que eu me faça entender? Será que eu entenderei tudo aquilo que me será dito? E se isso não acontecer? Será que isso? Será que aquilo? Mas se...
É a coisa pega fogo já na largada mesmo. E nunca se esqueça que há fatores agravantes ao aspecto psicológico e também ao físico. Caso você saia do Brasil para embarcar na Europa (fato bem comum), terá que encarar uma viagem de pelo menos umas 12 horas (um pouco mais, talvez um pouco menos). Terá a questão do fuso horário (médicos afirmam que mais de 4 horas de fuso pode confundir o sistema biológico do corpo). O cansaço da viagem, a excitação e a adrenalina provocada por toda a tensão natural de uma situação cheia de mistérios e que por mais informações prévias que você tenha se manterá em grande parte envolta em uma nuvem de suspense e apreensão. E o mais importante (sempre na minha humilde opinião, nunca vou deixar de lembrar), você estará a milhas e milhas distante de casa. Distante daqueles que ama, distante daquela vida segura e cotidiana que você tinha até algumas horas atrás e que te entediava, mas agora, pode acreditar, seu mundo virou de cabeça para baixo. Como se não bastasse tudo isso, também não esqueça, o seu contrato está apenas começando.
Não, definitivamente não é nada fácil estes primeiros momentos a bordo para aqueles que estiverem em seu primeiro contrato. Obviamente alguns terão a sorte de conseguir amenizar a situação tendo algum amigo a bordo com quem consiga fazer contato logo de inicio ou que seja muito despojado de sua família e não sinta tanto a falta, nem dela, nem de seus amigos deixados para trás. Ainda assim, é certo que terá um período de adaptação até que consiga começar a colocar as coisas em ordem em sua vida novamente e deixar seu mundo de novo "virado para cima". Mas aí, como esta gif espetacularmente tem a ver com este mundo de tripulantes e suas atribulações, vem aquela máxima que a bordo te pega em cheio no momento mais injusto - "Quando você acha que tem todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas". 
Em síntese a coisa só vai mesmo entrar ou melhor querer começar a entrar nos eixos lá pelo sexto, talvez quinto ou sétimo mês de contrato, dependerá muito do ritmo de cada um. Ou seja, de qualquer forma, você estará mais adaptado e conseguirá tirar melhor proveito da experiência quando já estiver passando ou chegando na metade do seu contrato (isso se ele for mais longo, tipo o de nove meses como foi o meu primeiro contrato quando fiquei dez meses e uma semana a bordo). Porém, um número considerável de tripulantes (brasileiros, não vi isto acontecendo com outras nacionalidades, mas veja bem, não estou dizendo que não aconteça com outras nacionalidades também, estou apenas dizendo que não notei isto no tempo em que estava a bordo), salta da barca bem antes. Muitos chegam mesmo a pedir sign off ainda no primeiro dia, não querem esperar se quer o próximo porto. Algumas vezes eu achava engraçado aquele ar desesperado deles, parecendo mesmo que se duvidassem se jogariam ao mar e voltariam a nado para casa. Felizmente isto nunca chegou a acontecer. Observei ainda que estes eram brasileiros que tinham uma vida muito boa e confortável em suas casas, aqui no Brasil. Gozavam de uma boa estrutura familiar, tinham tudo do bom e do melhor, o que é muito legal. Bom seria se todos neste país pudessem usufruir da mesma situação, mas infelizmente sabemos não é bem assim. Também preciso fazer justiça com vários tripulantes brasileiros que conheci a bordo e que não teriam, ao menos no aspecto financeiro, nem um motivo para estar passando por todas as adversidades e dificuldades que a vida de tripulante impõe, mas que no entanto, estavam lá firmes e fortes enfrentando muito bem a situação e a tirando de letra. No meu caso em particular, eu tive certeza que tinha conseguido a vaga quando na entrevista, ainda em Porto Alegre-RS, eu disse que trabalhava em dois empregos numa média de 16 horas por dia aproximadamente e que já vinha neste ritmo por mais de um ano.
Há enormes diferenças entre as classes sociais no mundo todo. Um verdadeiro abismo. As condições são mesmo bem ruins e precárias na maior parte dos países pobres e em alguns ditos em desenvolvimento, como é o nosso caso aqui no Brasil, mas aí eu já estou fugindo do tema proposto no post de hoje, porém, por outro lado, é verdade que uma análise mais equilibrada requer que consideramos estes pontos.
De qualquer forma, em resumo é isso. Se você estiver na condição de tornar-se tripulante de navios de cruzeiro, meu conselho, prepare-se para virar seu mundo de cabeça para baixo, mas, de forma alguma desanime ou ache que por causa disso terá que descer logo ali na primeira parada. Que nada, aposto que você é muito mais forte do que você mesmo acreditava ser e lembre-se, ainda que muitos tenham desistido outros tantos persistiram e passaram por todo o contrato. Chegaram ao final e puderam avaliar melhor tudo o que passaram ao olhar para trás. Alguns odiaram, é verdade e além de nunca mais voltar, dedicaram uma parte de suas vidas a propagar a sua opinião de que está é uma grande bola fora, o maior erro que alguém pode cometer na sua vida. Outros, por outro lado, saem desta concluindo exatamente o oposto, retornam uma, duas, três vezes ou mais e estes também dedicam boa parte de suas vidas a incentivar aqueles que desejem ter a mesma vida. Há muitos blogs e imensa discussão acalorada dos dois lados em grupos no facebook, não cabe a mim te dizer qual dos lados seguir. Eu diria, ainda que possa soar batido e surrado ou mesmo fora de moda, meio demodê, "siga seu coração". Acredito que cada um deva fazer seu próprio caminho, escrever sua própria história e ao final de tudo é a cada um que cabe a decisão final sobre a sua vida e os rumos que ela deve tomar. A minha experiência foi sofrida, dura, cheias de altos e baixos, mas foi válida e não me arrependo. 
Um ótimo findi pra todos, fiquem com Deus e até a próxima! 

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Muitas Milhas Longe de Tudo


Boa noite para todos, meus amigos e amigas, que tem me dado a grata satisfação de sua visita.
O post de hoje será um pouco diferente de todos os outros que eu postei desde que comecei com o blog, isso já há quase um ano. Sobretudo bem diferente desta nova fase do blog, onde eu desisti de usá-lo para fazer a divulgação do 305 Dias a Bordo (o livro que escrevi contando minha experiência a bordo e o qual eu tinha uma grande expectativa que teria uma boa recepção por parte daqueles que também são ou foram tripulantes, bem como dos que pretendem ser, daqueles que estejam em via de ser e até mesmo dos passageiros deste tipo de embarcação, mas que para minha tristeza e imensa frustração foi um total fracasso de vendas, ainda que seja um ótimo livro, muito bem escrito e completo), passando a utilizar o espaço para divulgar todos os pontos que envolvem este tipo tão peculiar de trabalho.
Sendo assim, nesta nova fase, inevitavelmente, eu comecei a abordar as questões tenebrosas, nebulosas, horríveis, cruéis, ruins mesmo do trabalho em navios de cruzeiro. Considero importante isso e continuarei o fazendo.
Não quero desestimular ninguém que tenha este tipo de trabalho como um grande sonho, ou um grande objetivo em sua vida, eu mesmo já fui tripulante (sobre a minha relação com esta questão aguarde novidades em breve) e ainda que eu já tenha recebido fortes críticas negativas quando coloco os posts que defendem o trabalho a bordo, ambos os lados são importantes e será essa a postura adotada aqui no blog daqui para frente.
Agora, sobre o post "diferente" de hoje. Porque diferente? Porque toda esta discussão gera stress, raiva, rancor, ódio, tristeza, enfim uma série de sentimentos negativos, dos quais eu tenho a absoluta convicção de que o mundo, a sociedade atual, como um todo, já está completamente saturada.
Este post de hoje é um intervalo, um parênteses, um pausa na batalha diária que me parece tem se transformado a vida da grande maioria das pessoas ao redor do mundo. É para dar um recado simples, singelo, mas também muito direto, características que tenho na minha personalidade e que procuro as manter a todo custo. É para lembrar que a vida é muita mais que isso, por favor, não esqueçamos disso pessoal. A vida é muito mais que toda essa coisa ruim que está a nossa volta. Que muitas vezes esbarra em nós, nos puxa e nos leva junto numa enorme queda livre. De padrões, de morais, de sentimentos...
Dedico este post de hoje, antes de tudo, a todos os bravos guerreiros tripulantes que estão neste exato momento em alto-mar, estejam eles em qualquer canto do mundo pelos oceanos que estiverem. Dedico também para todos aqueles que estejam longe de casa, sendo "casa" o lugar sagrado onde mora o seu coração e as pessoas especiais com quem se decidiu compartilhar está jornada, está viagem maior de todas que se chama vida.
Espero que gostem da música e do clip.
Uma ótima semana a todos, que Deus siga os abençoando (creia você nele ou não) e que a paz e os bons sentimentos nunca abandonem os seus corações, fui!!!!

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Audiência Pública no Senado Sobre o Trabalho Em Navios de Cruzeiro

Foto Geraldo Magela/Agência Senado

Saudações a todos. 
Tenho estado bem ocupado e consequentemente com menos tempo para me dedicar ao blog, mas com um pouco de paciência e muita perseverança, lá vamos nós.
Na ultima segunda-feira, 7 de outubro, as 10:00 horas, ocorreu no senado federal, em Brasília, nova audiência pública para tratar do tema da regulamentação do trabalho em navios de cruzeiro. Estiveram presentes, além do condutor do processo, o senador Paulo Paim (PT RS), o senhor Alexandre Ribeiro Frasson, pai da Bruna ( a menina detida na Espanha, vítima de um processo já publicado aqui no blog), a senhora Rosângela Bandeira, mãe de Camilla Peixoto Bandeira (assassinada a bordo do MSC Musica, também já postado aqui no blog), a senhora Ana Maria Pinto Canelas, assessora da Federação Nacional dos Trabalhadores em Transportes Aquaviários e Afins, o senhor Severino Almeida Filho, presidente do Sindicato Nacional dos Oficiais da Marinha Mercante, o senhor Bruno Renato Nascimento Teixeira, Ouvidor Nacional dos Direitos Humanos desta secretaria da presidência da república e o senhor Raul Capparelli Vital Brasil, Auditor Fiscal do Ministério do Trabalho e Emprego. Também esteve presente e contribuiu para a sessão o bailarino Arthur Souza, relatando casos de shows eróticos a bordo da companhia Star Cruises, onde foi contratado para participar de musicais estilo broadway,  mas que, segundo ele, acabou "caindo numa roubada". Para provar o que estava dizendo Souza mostrou aos membros da sessão (em audiência fechada) vídeos do ocorrido.
Infelizmente, por questões de agenda pessoal, eu não tive como acompanhar ao vivo a audiência e posteriormente no site do senado eu li o que estava a disposição sobre ela e assisti aos vídeos que foram colocados no referido site. Há dois vídeos. Um de 32 minutos onde o senhor Alexandre faz suas colocações com o auxílio de vídeos muito bem elaborados por ele. Neles ele expôs os casos de sua filha, Bruna Frasson (que cumpria contrato pela companhia italiana Costa), das tripulantes que faleceram a bordo, Fabiana Pasquarelli e Camilla Peixoto (ambas em navios da companhia italiana MSC) e ainda o caso da tripulante desaparecida desde de julho em 2012, quando navegava em águas italianas a bordo do navio Costa Mágica, Laís Santiago. O senhor Alexandre levanta a hipótese de Laís ter sido vítima do tráfico de pessoas, ainda que a companhia Costa tenha apresentado um vídeo (muito ruim em sua qualidade diga-se de passagem), alegando que a tripulante teria se suicidado arremessando-se ao mar. No entanto, assim como foi no caso da Camilla, há inúmeras questões mal explicadas e muitos pontos falhos nesta versão, isso sem falar em outras evidências que só aumentam o questionamento no caso dela. "No modo da campanha feita no Rio, no caso Amarildo, estamos lançando onde está Laís", contou o senhor Alexandre Frasson, comunicando que irá criar a campanha para tentar encontrar a tripulante. O outro vídeo tem uma duração de 14 minutos e trás o senhor Severino Almeida Filho fazendo suas colocações.
Durante a sessão o senador Paulo Paim (PT RS), adiantou que ao final do mesmo dia estaria registrando três projetos de lei com medidas no campo penal e trabalhista. Informou ainda que será enviado a Anvisa um pedido de esclarecimentos sobre os requisitos que esses navios, todos pertencentes a armadores estrangeiros, possam operar em águas brasileiras. A busca de meios para elaboração de uma cartilha que sirva de orientação para candidatos a tripulantes deste tipo de embarcação é outra medida que será adotada.
Outras questões foram abordadas e o mais interessante em tudo isso é ver que, ainda que timidamente, as coisas estão acontecendo e possivelmente mudanças positivas no horizonte começarão a aparecer. Os familiares de Camilla, sua mãe, senhora Rosângela e seu filho, o irmão de Camilla, senhor José godolphin e o senhor Alexandre Frasson, o pai de Bruna Frasson, tem sido incansáveis nesta luta desigual e são verdadeiros gigantes defendendo direitos de pessoas que nem sabem de sua batalha e dos benefícios que a vitória deles poderá ter para elas, falo claro, da imensidão de tripulantes e futuros tripulantes que ou já estão a bordo sofrendo na carne tudo o que foi relatado nesta audiência ou dos que pretendem, em breve, estarem vivendo suas próprias experiências. A minha, como já disse, está toda relatada no livro que escrevi e embora muito sofrida, não chegou a ter este viés tão negativo mencionado na audiência.
Já conclui o questionário e os primeiros interessados em respondê-lo já manifestaram seu interesse. No entanto, como ele ficou amplo (até mesmo porque procurei abordar todos os aspectos que envolvem o trabalho a bordo), acredito que ainda levará mais um pouco de tempo para que os primeiros estejam sendo publicados aqui no blog. Ainda irei colocar os casos da Fabiana e da Laís, além de outros que os familiares de Camilla colocaram lá no site deles. Aliás, eu recomendo e muito, é a melhor fonte de informação sobre o tema. Quem quiser conferir pode usar este link aqui, basta clicar sobre o nome dela - Camilla Peixoto Bandeira.
Até a próxima meus amigos e amigas, tenham todos uma ótima semana, repleta de realizações positivas, fiquem com Deus, fui!

sábado, 5 de outubro de 2013

Tá, Mas Dá Para Ficar Rico Trabalhando Em Navio?



Calorosa saudações rapaziada que dá sua passadinha por aqui, ainda que seja bem raro alguém dar uma interagida e deixar algum comentário, ao menos, de acordo com as informações do painel do blogger, a audiência até que está melhorando, não é nada que se diga nossa quantas visualizações, mas já foi pior.
Bom hoje eu abordarei outra vez a questão financeira, lembre-se de que mencionei que voltaria ao assunto com maior foco na questão salário, quando postei sobre o aspecto financeiro como um dos grandes prós do trabalho em navios de cruzeiro.
Naquele post eu mencionei que havia lido, visto matéria na televisão e acompanhado nas redes sociais que muita gente divulgava (e divulga ainda) que os salários a bordo não são aquilo que as companhias anunciam, havendo uma queixa generalizada que se divide em dois pontos - que os salários a bordo são baixos e de que as companhias inicialmente acenam com uma remuneração e uma vez a bordo pagam bem menos do que o valor pré acertado antes do embarque.
Então vamos lá, mais uma vez preciso fazer a ressalva e frisar bem o fato de que tudo o que eu escrevo aqui sobre este assunto tem como referência o meu primeiro contrato como tripulante, onde fiquei embarcado por 305 dias a bordo do MSC Orchestra, como assistant waiter, na temporada 2009-2010. Posso parecer meio chato lembrando isso sempre, mas faço questão disso, porque para mim é importante que vocês saibam que busco a sensatez, o equilíbrio, a sinceridade e a honestidade em relação as informações que passo. Não vejo maneira mais verídica do que essa de usar a minha própria experiência a bordo por quase um ano viajando sem voltar um dia se quer para casa nesse período, com a intenção de ajudar aqueles que buscam informações sobre este tipo de trabalho. É bem conveniente registrar também de como as informações chegam desconexas e na grande maioria das vezes de forma unilateral, de forma parcial e isto também acaba se tornando um agravante para que aqueles que desejem mais informação sobre este ramo de trabalho possam obtê-la de uma maneira mais coerente e justa. Acabei de perceber que tenho material para mais um post muito bom onde abordarei esta questão das informações e contra-informações sobre o tema.
Bem, desculpe-me aí, acabei fugindo um pouco da proposta inicial. Então retomando. Alguns amigos com quem tive o prazer de conviver a bordo com uma experiência muito maior que a minha (já no seu segundo, terceiro, quarto contrato e assim por diante), proporcionaram-me uma visão mais rica, mais ampla sobre esta questão. Já diziam eles que quando chegavam em casa após um contrato algum metido a amigo, um conhecido, na verdade, invejoso e mais maldoso, sempre vinha com a brincadeirinha do "e aí já ficou rico agora?", claro que a resposta era não. Mas a grande verdade é que uma grande parte dos tripulantes, mesmo os brasileiros (com os estrangeiros pelo levantamento que fiz através de conversas com vários deles a coisa é ainda mais tangível, mas aí entram em cena outros fatores como a economia do país daquele tripulante, a conversão da moeda, o foco na suas finanças pessoais, etc), após o segundo contrato costumavam ter uma significativa melhora no seu padrão e consequentemente na sua qualidade de vida. Alguém já brincou usando a afirmação de que o dinheiro não compra a felicidade, mas que ele manda alguém comprar. Ainda que eu não concorde com este dito, não posso negar que ter uma melhor renda permite muitas coisas que não se tem com uma menor e que isso direta ou indiretamente contribui para que nos sentimos melhor, mais alegres, mais felizes.
Sendo assim galera, de forma resumida (é mesmo impossível abordar e esmiuçar este tema inteiro em apenas um post e tendo como referência apenas a minha experiência), posso dizer o seguinte. Os salários maiores a bordo (falando obviamente na plebe rude, camada social a qual pertenço e pertencia a bordo), são também daqueles que tem as funções que mais ralam a bordo e estão concentrados nas áreas de restaurante e hotelaria. Os tops são os garçons e os camareiros. Há funções intermediárias e iniciais nestas duas áreas e aqueles que a exercem tem um salário muito menor. Neste primeiro contrato meu salário como assistente de garçom, lá na MSC, era de U$$ 1.200,00, porém uma informação mega preciosa que você precisa saber é que esta companhia costuma reter boa parte do seu salário nos três primeiros meses. A alegação para isso é que se caso você resolver desistir e quebrar seu contrato, este fundo de reserva será usado para custear sua passagem de volta para casa. Caso isso não aconteça e você cumpra o seu contrato até o final (ou até mesmo o exceda em tempo, como foi o meu caso), o custo integral das passagens até o aeroporto mais próximo de sua cidade (que você mesmo informará quando chegar a hora) ficará por conta da companhia e aquele fundo lhe é pago nos meses subsequentes. Sendo assim, na prática, naquela ocasião eu nunca recebi no mês os U$$ 1.200,00. No inicio do contrato recebi menos e depois do terceiro mês costumava receber um pouco mais. Outra variante que entra na questão salário é a taxa de ocupação do navio. Uma vez que as tips (que fazem parte do seu salário, no caso do pessoal do restaurante) estão inclusas no preço do pacote que o passageiro compra. Outro porém que deve ser levado em conta são as tips que você recebe diretamente dos passageiros (normalmente na ultima noite de cada cruzeiro). Este valor costuma fazer uma diferença positiva, mas sofre de uma inconstância muito grande de cruzeiro para cruzeiro  devido a diversos fatores que não vou abordar aqui agora, até mesmo porque este post já está muito longo e a galera não curti isso.
Bem gente, termino este post concluindo de que acabarei retornando ao tema e o farei em outra ocasião, não necessariamente na sequência imediata, uma vez que existem outros assuntos a serem tratados e outros que não podem ser esquecidos.
Muito obrigado a todos pela atenção e pela visita, um ótimo findi e fiquem com Deus, fui!!

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Navegando Pelo Planeta Na Imensidão do 7 Mares


Muito bem gente, saudações a todos, sejam bem vindos para mais um post desse marujo de meia tigela que vos escreve.
Hoje vamos tratar de mais um pró do trabalho em navios de cruzeiro e como sempre vou falar usando como principal referência minha própria experiência, quando estive a bordo por 305 dias e da qual eu até escrevi um livro e tal (mas isso ninguém quer saber não é mesmo, afinal quem gosta de ler livros nesse país?)
Então vamos lá, direto ao que interessa. Durante este tempo em que entre uma dificuldade e outra eu ia vivendo e sobrevivendo a bordo, tocando a vida a custa de muito sangue, suor e lágrimas (tá certo, é verdade que eu nunca cheguei e chorar a bordo, mas olha que estive bem perto), uma das minhas aliadas para manter a mente sã e arejada era sempre a descida quando estávamos atracados em algum porto, de alguma cidade, de algum país por onde estivéssemos passando. E meus amigos, não foram poucos não. Para você ter uma ideia mais clara do que estou falando, durante os 305 dias a bordo, eu passei por mais de 40 cidades, em mais de 15 países em pelo menos 3 continentes.
Agora peço a gentileza que acompanhe o meu raciocínio. Veja bem, um sujeito de baixa renda que jamais teria condições de sair do seu país para viajar, conhecer Lisboa, Gênova, Barcelona, Buenos Aires, Montevidéu, Oslo, Estocolmo, ter tido a chance de, ao menos, ter uma ideia do que são países como Alemanha, Inglaterra, Itália, Portugal, Espanha, Dinamarca, Suécia, Noruega, Marrocos, Argentina, Uruguai entre outros, convenhamos, é algo valioso e que não é possível mensurar apenas com o argumento simplista de calcular o valor aproximado que seria necessário para rodar o mundo por estes países e por estas cidades (ainda assim o montante financeiro que seria preciso ficaria muito aquém das minhas condições por muitas gerações). Pois bem o trabalho a bordo de um navio de cruzeiros me permitiu isso, me deu esta oportunidade. Claro que tudo é muito rápido, a "toque de caixa", mas intensa e rápida é a vida a bordo, e se você parar para pensar um pouco, verá que toda esta intensidade e toda esta rapidez te obriga a ser mais focado e mais eficiente e estas características se entrarem na "massa do sangue" podem ser de grande valia para tocar a vida fora do navio, após o término do contrato.
Por outro lado, deixo aqui uma dica valiosa para os aspirantes a tripulante, aqueles que estão buscando seu primeiro contrato. NUNCA, eu disse NUNCA, vá dizer numa entrevista no processo seletivo que você quer trabalhar a bordo de um navio de cruzeiros para viajar e conhecer o mundo. Lembre-se você NÃO está indo fazer turismo e sim para trabalhar e muito, mas muito pesado mesmo, no mínimo por 10 horas, sete dias por semanas, todos os dias do mês, na verdade todos os dias, cada diazinho do seu contrato, seja ele de seis ou de nove  meses, então não tire isso da sua mente. Haverá sim, com toda a certeza, os momentos em que você terá a oportunidade de descer um pouco (ainda que as vezes seu tempo seja de apenas meia-hora) e quando esta oportunidade chegar pode ter certeza, os melhores momentos de seu contrato estarão prestes a acontecer. Será aquele momento mágico e alegre dos sorrisos nas fotos que você mostrará todo orgulhoso quando voltar (ou que compartilhará pelo facebook, cheio de saudades dos familiares, dos amigos e de todos aqueles que você deixou para trás ao decidir embarcar e conferir como é essa vida), será também o momento em que você, muito provavelmente virá as lágrimas durante uma ligação de telefone, milhas e milhas distantes de casa, ouvindo do outro lado do aparelho a voz daquele que ama (sejam seus país, seus irmãos, sua esposa(o), seu filho(a)).
Mesmo assim serão estes, sem sombras de dúvidas, os momentos que irão fazer valer a pena e acrescentar valores imensuráveis a sua experiência. Fica a dica - desça sempre e visite o maior número de lugares que você conseguir.
Uma última observação antes de me despedir. Fiquei impressionado com a repercussão e audiência que os posts sobre o lado negro que conta os casos da Bruna e da Camilla tiveram. Tem um lado muito bom isso, mas também me fez refletir se o ser humano não é mesmo mais interessado em coisas ruins do que nas coisas boas? Vai ver vem daí a explicação para o sucesso dos veículos de comunicação que tem como enfase tragédias, violência e tudo mais de ruim que acontece por aí. Também, quem sabe, esteja aí a explicação para o fracasso de vendas do meu livro, vai saber?
Mas era isso por hoje, fiquem todos com Deus e até o próximo post.


terça-feira, 1 de outubro de 2013

A Hora É Agora



Oi para todo mundo, nunca vou cansar de agradecer vossa louvável visita, de coração gente.
Hoje eu vou dar uma pausa nos assuntos mais pesados, tristes e tensos que venho abordando recentemente aqui no blog e vou fazer uma avaliação do momento para quem tem a intenção de embarcar ou retornar a sofrida vida de crew.
Um dos motivos, eu diria até que seria o principal deles, daqueles que buscam o trabalho a bordo dos cruzeiros marítimos é a possibilidade de um bom salário, a chance de obter, entre outras coisas, um bom ganho financeiro.
Eu poderia me aprofundar a respeito da questão salário, uma vez que já li, já vi reportagens na televisão e acompanhei algumas discussões nas redes sociais de que as companhias ofereceriam um determinado valor e uma vez a bordo a realidade seria outra bem diferente, mas para resumir esta questão farei apenas duas colocações - primeiro ela está abordada de forma muito clara e transparente no livro que escrevi relatando os 305 dias que estive a bordo (o dia do primeiro pagamento foi um dos momentos mais tensos e marcantes desta experiência e está bem descrito lá) e segundo, voltarei ao tema em outra oportunidade analisando minunciosamente este tema - dito isso, voltemos a questão deste post.
A observação mais importante que deve ser feita atualmente é no mercado financeiro e eu aconselho aos aspirantes a crew ou aqueles afastados do mar já há algum tempo, mas que estão balançando, refletindo se deveriam voltar ou não a bordo, a acompanharem mais de perto as oscilações da cotação da moeda americana, já que todos sabem, é em dólar que na grande maioria das companhias de cruzeiro são feitos os pagamentos dos salários.
A boa notícia é a seguinte, os economistas, os analistas do mercado financeiro, as instituições especializadas, enfim, todo o pessoal do meio tem uma opinião convergente, de senso comum, de que o dólar manterá-se acima dos dois reais, com uma forte tendência de flutuação entre R$ 2,20 até R$ 2,30, podendo haver ainda uma valorização mais forte conforme o comportamento da economia nos Estados Unidos, o que até já teria ocorrido se o governo brasileiro não tivesse agido para conter a alta. Mas, a grande notícia é mesmo essa - dólar em alta = a salário ainda mais atraente para os tripulantes que dão sangue e suor a bordo, trabalhando incansavelmente todos os dias em suas longas jornadas.
Vou ficando por aqui, porque o texto já está muito alongado, mas prometo voltar ao tema posteriormente para comentar sobre os outros aspectos que são os prós embarque. O principal deles está aqui, a alta do dólar é sim uma grande aliada para quem estiver a fim de, como já disse, retornar a bordo após um período longo fora dos navios ou para os marinheiros de primeira viagem.
Fui gente, fiquem todos com Deus e até a próxima!